OFICINAS CULTURAIS EM VILA DE CAVA


Turmas de julho/2009
Inscrição abertas

● BALLET INFANTIL
●DANÇA PROFETICA
●CANTO
●FOTOGRAFIA
●DESENHO
●ARTESANATO
●CROCHE
●PINTURA EM TECIDO
●ARRANJOS FLORAIS

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A primeira noite de um homem



Juliene Terra, A Observadora do Cotidiano




Matematicamente, a menor distância entre dois pontos é uma reta. E entre um homem comum e uma estrela esse conceito é uma exceção à regra. Nesse caso em particular, essa distância é o teatro que valida a máxima de que o povo está onde a arte está, necessariamente nessa ordem.
Na noite de 11 de abril de 2009, um senhor anônimo ganhou ares de ator principal, após a apresentação de um monólogo. No palco, a grande dama do teatro brasileiro Fernanda Montenegro. Na platéia, o quase centenário Nelson Francisco de Paula. Ela, como de costume, emocionou os espectadores com a sua atuação. Ele emocionou a todos por ter ido ao teatro pela primeira vez. Diante de um público arrebatado e de uma atriz declaradamente comovida, o aposentado roubou a cena, no SESC São João de Meriti, e foi aplaudido por quase um minuto.
Seu Nelson já viu muita coisa acontecer, ganhou a vida como sapateiro e agora acontece sem querer. Indagado pela grande dama sobre a sensação de ir ao teatro pela primeira vez, ele respondeu que foi uma alegria e que é bom para aprender muita coisa. Emocionada, Fernandona continuou sobre o tablado apreendendo aquele momento. Lúcido do seu significado, naquele instante, o aposentado foi sucinto nas palavras e, ao lado de sua família, manteve a postura digna de um espectador-estrela.
Seu Nelson tem a cara do Brasil, mas durante muito tempo não fez parte dele; ao menos do cenário cultural. Com a sinceridade de uma criança, o homem confessou para mim, num tom de voz suave e alegre, que nunca havia ido ao teatro por causa da distância e do preço do ingresso. Morador de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense, ele disse que cultura custa caro. Generosos, porém, os deuses dessa arte e o tempo resolveram dar uma chance ao marinheiro de primeira viagem. O sapateiro aposentado assistiu ao espetáculo “Viver sem tempos mortos”, que faz uma visita à obra de Simone de Beauvoir, foi reverenciado inclusive pela atriz e não precisou pagar por isso, como todos os outros presentes. De quebra, e ainda que distante, contracenou com Fernanda, foi entrevistado por um jornalista de São Paulo e ficou no imaginário popular. Sem dúvida, hoje, todos experimentaram o prazer de ir ao teatro pela primeira vez.
Nesta noite, esse senhor-menino viveu intensamente e encantou o meu coração. Não resisti ao seu olhar doce, acariciei seus ralos cabelos brancos e lhe dei dois beijões estalados na bochecha. Diante de minha ousadia infantil, ele sorriu. Ao vê-lo sair de cena ao lado do filho, da nora e do neto, o ilustre desconhecido me fez pensar no que disse Cora Coralina: "Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas”. Continue no palco da vida tocando, encantando e inspirando corações, seu Nelson! Até o próximo espetáculo!